sábado, 25 de setembro de 2010

A INFÂNCIA DE CRISTO

A INFÂNCIA DE CRISTO
(SEGUNDO TIAGO)

INTRODUÇÃO
Apresentamos, numa versão modernizada, textos considerados apócrifos e que trazem importantes informações a respeito da vida de Cristo, preenchendo lacunas até então criadas pelos Evangelhos constantes da Bíblia. Estes textos retratam os acontecimentos que precederam o nascimento de Cristo, contando a história de Maria e da natividade, além da história da infância do Senhor Jesus, no Evangelho de Tomé. Há também excertos do Livro da Infância do Salvador, onde a vida de Jesus, dos cinco aos doze anos, é retratada.

Vale lembrar que numa outra obra desta coleção, o Evangelho de São Pedro, a Infância de Cristo é apresentada na sua íntegra, mostrando fatos e passagens importantes da vida do Senhor Jesus, nos seus primeiros anos. Os textos chamados de apócrifos são aqueles não incluídos pela Igreja no Cânon das
Escrituras autênticas e divinamente inspiradas. Como foi feita essa seleção, até hoje a Igreja não explicou adequadamente. Se inspirados ou não, são relatos dos primeiros tempos do Cristianismo, importantes para quem deseja
conhecer a fundo essa religião.

A NATIVIDADE
Este livro, apesar de conhecido como o Evangelho de Tiago ou Proto-Evangelho de Tiago, tem sua autoria desconhecida. Publicado em fins do século XVI, não se sabe exatamente ainda qual a época em que foi escrito, mas os maiores estudiosos dos Livros Apócrifos afirmam que é anterior aos Quatro Evangelhos Canônicos, servindo, em muitos aspectos, como base para estes. O Proto-Evangelho de Tiago conta a vida de Maria, seu nascimento de Ana e Joaquim, considerados estéreis, de como foi sua educação no Templo até a sua puberdade, como se deu a escolha de seu futuro esposo, José, velho, viúvo e pai de seis filhos: Judas, Josetos,

Tiago, Simão, Lígia e Lídia. Continua, narrando a concepção e a virgindade, que se manteve após dar à luz o Salvador, numa caverna. Fala da estrela misteriosa e radiante, que guiou os magos até a caverna e da nuvem de luz que pairou sobre o local, na hora em que o Senhor Jesus nascia. Narra, também, a participação da parteira que testemunhou a virgindade de Maria, após o
nascimento do Senhor E cita o testemunho de uma parteira que constatou a virgindade-de Maria após dar à luz.

PROTO-EVANGELHO DE TIAGO

ISegundo narram as memórias das doze tribos de Israel, havia um homem muito rico, de nome Joaquim, que fazia suas oferendas em quantidade dobrada, dizendo:
O que sobra, ofereça-o para todo o povoado e o devido na expiação de meus pecados
será para o Senhor, a fim de ganhar-lhe as boas graças. Chegou a grande festa do Senhor, na qual os filhos de Israel devem oferecer seus donativos.
Rubem se pôs à frente de Joaquim, dizendo-lhe:
Não te é lícito oferecer tuas dádivas, enquanto não tiveres gerado um rebento em Israel. Joaquim mortificou-se tanto que se dirigiu aos arquivos de Israel, com intenção de consultar o censo genealógico e verificar se, porventura, teria sido ele o único que não havia tido prosperidade em seu povoado.
Examinando os pergaminhos, constatou que todos os justos haviam gerado descendentes. Lembrou-se, por exemplo, de como o Senhor deu Isaac ao patriarca Abraão, em seus derradeiros anos de vida. Joaquim ficou muito atormentado, não procurou sua mulher e se retirou para o deserto. Ali armou sua tenda e jejuou por quarenta dias e quarenta noites, dizendo: Não sairei daqui nem sequer para comer ou beber, até que não me visite o Senhor meu Deus. Que minhas preces me sirvam de comida e de bebida.
Ana lamentava-se e gemia dolorosamente, dizendo: Chorarei minha viuvez e minha esterilidade. Chegou, porém, a grande festa do Senhor e disse-lhe Judite, sua criada: Até quando vais humilhar tua alma? Já é chegada a festa maior e não te é lícito entristecer-te. Toma este lenço de cabeça, que me foi dado pela dona da tecelagem, já que não posso cingir-me com ele por ser eu de condição servil e levar ele ao selo real.
Disse Ana:
Afasta-te de mim, pois que não fiz tal coisa e, além do mais, o Senhor já me humilhou em demasia para que eu o use. A não ser que algum malfeitor o haja dado e tenhas vindo para fazer-me também cúmplice do pecado. Replicou Judite: — Que motivo tenho eu para maldizer-te, se o Senhor já te amaldiçoou não te dando fruto de Israel? Ana, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com um toucado, vestiu suas roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua sombra e orou ao Senhor, dizendo: Ó Deus de nossos pais! Ouve-me e bendize-me da maneira que bendisseste o ventre de Sara, dando-lhe como filho Isaac!
Tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo:
— Ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel. Estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Deus. Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois elas são fecundas em tua presença, Senhor. Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da
terra, pois que até esses animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor. Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor. Ai de mim! A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecundada, dando seus frutos na ocasião própria e te bendiz, Senhor.
IV
Eis que se lhe apresentou o anjo de Deus, dizendo-lhe:
— Ana, Ana, o Senhor escutou teus rogos! Conceberás e darás à luz e de tua prole se falará
em todo o mundo.
Ana respondeu:
— Viva o Senhor meu Deus, que, se chegar a ter algum fruto de bênção, seja menino ou
menina, levá-lo-ei como oferenda ao Senhor e estará a seu serviço todos os dias de sua
vida.
Então vieram a ela dois mensageiros com este recado:
— Joaquim, teu marido, está de volta com seus rebanhos, pois que um anjo de Deus desceu
até ele e lhe disse que o Senhor escutou seus rogos e que Ana, sua mulher, vai conceber em
seu ventre.
Tendo saído Joaquim, mandou que seus pastores lhe trouxessem dez ovelhas sem mancha.
Disse ele:
— Estas serão para o Senhor.
Mandou, então separar doze novilhas de leite, dizendo:
— Estas serão para os sacerdotes e para o sinédrio.
Finalmente, mandou apartar cem cabritos para todo o povoado.
Ao chegar Joaquim com seus rebanhos, estava Ana à porta e, ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se ao seu pescoço dizendo: Agora vejo que Deus me bendisse copiosamente, pois, sendo viúva, deixo de sê-lo e, sendo estéril, vou conceber em meu ventre. Então Joaquim repousou naquele dia em sua casa.
No dia seguinte, ao ir oferecer suas dádivas ao Senhor, dizia para consigo mesmo: — Saberei se Deus me vai ser favorável se eu chegar a ver o éfode do sacerdote.
Ao oferecer o sacrifício, observou o éfode do sacerdote, quando este se acercava do altar de
Deus, e, não encontrando pecado algum em sua consciência, disse: — Agora vejo que o Senhor houve por bem perdoar todos os meus pecados. Desceu Joaquim justificado do templo e foi para casa. O tempo de Ana cumpriu-se e no nono mês deu à luz. Perguntou à parteira: — A quem dei à luz? A parteira respondeu: — Uma menina. Então Ana exclamou:
Minha alma foi enaltecida — e reclinou a menina no berço.
Ao fim do tempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deu o peito à menina e pôs-lhe o nome de Maria.
Dia a dia a menina ia robustecendo-se. Ao chegar aos seis meses, sua mãe deixou-a só no chão, para ver se sustentava-se de pé. Ela, depois de andar sete passos, voltou ao regaço de sua mãe. Esta levantou-se, dizendo: — Salve o Senhor! andarás mais por este solo, até que te leve ao templo do Senhor.
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POSTADO POR
DAVID PESSÔA DE BARROS.

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